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Victor Borge - Homenagem
PTS - Reflexão 3 & Final
Diversão nos Transportes Públicos
Já estive na Disneyland, já me considero utilizador assíduo do Port Aventura da Universal Pictures, e já visitei muitos outros parques de diversões. Ainda assim, devo dizer que das coisas que mais gosto me dá é viajar nos transportes públicos. Tudo bem que não tem, nem pouco mais ou menos, a parte física da diversão, a adrenalina ou aquela alegria de tirar uma fotografia com o rato Mickey, mas é bastante estimulante e interessante. Quando falo nos tranportes públicos, abranjo todos os tipos destes, claro está, se bem que posso tender a direccionar-me mais para o metro, que uso com muito mais frequência.
Bom, tantas palavras já escritas e ainda não divulguei o porquê de achar as viagens nos transportes públicos divertidas, enquanto inúmeras outras pessoas seriam muito bem capazes de afirmar, sob juramento até, que se há parte desagradável do seu dia-a-dia, é terem de andar nos transportes públicos, onde faz calor e não há arejamento; onde podemos ir sentados ao lado de um psicopata que não desvia o seu olhar do nosso por nada deste mundo; ou ainda ir ao lado de algúem que calcou um montinho de fezes de cão (e quem diz cão, pode ser de rato, ou de gato, ou de cavalo, etc. As pessoas é que assumem sempre ser de cão) e que não percebeu o que aquilo era, foi lá mexer com a mão, e quando percebeu o que fez, deitou as mãos à cara, em acto de espanto e desespero, piorando a situação, principalmente para quem vai sentado ao lado da mesma pessoa durante uma viagem de 30 minutos até sua casa – ou, se for de manhã, acaba por ter de ir a cheirar mal para o emprego ou para a escola. E não há mesmo volta a dar. É assim que funciona. É assim que sempre funcionou.
As posturas. As posturas, as maneiras de estar e as reacções, o mais variadas existentes, ocorrem nos transportes públicos. Há de tudo, e eu gosto de estar lá para testemunhar e me divertir um pouco. Não por mal às pessoas, porque mesmo eu e toda a gente que conheço temos bastantes defeitos, mas por achar uma imensa piada à diversidade que há, sendo nós todos da mesma raça. Do mesmo material.
No metro há aqueles que dormem, porque tiveram uma noitada nessa noite, por trabalho ou estudo, ou mesmo por diversão, e então não aguentam e acabam por adormecer. Uns ainda tapam os olhos com uns óculos de sol; é uma boa jogada, até que se começam a babar e denunciam-se na mesma. Há aqueles que ouvem música clássica enquanto jogam sudoku, e os que ouvem música da pesada enquanto abanam a cabeça e preparam um batido de neurónios para o lanche a meio da manhã com toda aquela agitação. Eu pessoalmente gostava de saber onde estas pessoas vão buscar tanta genica logo de manhã cedinho.
Para além dos que ouvem música, há os simpáticos, que a dão. De graça! Sim, e ainda há quem diga “hoje em dia ninguém dá nada!” Mas a sério, dão música. Metem o volume dos seus aparelhos de música naquele nível um tracinho após o traço do máximo, de modo a partilharem as suas músicas com os que os rodeiam. É bastante simpático da parte deles, mesmo.
Depois há aqueles que têm um grande dilema pela frente. A parte dos seus cérebros que gere as relações sociais não os quer deixar dormir, mas a parte dos seus cérebros que vê a energia a rondar metade do rendimento, quer que eles durmam, e estes são fáceis de localizar. Sim, são aqueles cuja cabeça tomba para o lado e de repente volta a pôr-se direita num repentino esticão, apenas para voltar a cair três segundos depois e de seguida voltar a levantar-se. Com tanta gente assim, tenho de vos confessar que não percebo porquê que ainda nenhuma rapariga se lembrou de deixar cair a sua cabeça por cima do meu ombro no metro. Fica aqui a sugestão. Eu garanto que o meu ombro é muito confortável, e que não me mexo muito.
O nariz é uma parte muito íntima do nosso corpo. Tão íntima que muitos são os que têm de constantemente confirmar o estado físico deste, do lado de dentro... Uns usam o indicador para massajar a máquina olfactiva, outros literalmente escarafuncham, enquanto outros repuxam uma esbelta bola de fungos para mais tarde, quando a porta do metro se abrir, mandarem a famosa bisga, coisa que quero acreditar piamente que façam no chão da sala das suas casas também.
O dedo mindinho é mais reservado aos ouvidos. Há muitos que consideram que é preciso fazer sondagens à quantidade de cera nos ouvidos. Claro que a intenção é só medir os níveis, para confirmar se estará ou não na altura de ir ao médico, mas acaba sempre por vir alguma agarrada ao dito cujo, quantidade que depois acabam por limpar nas suas calças. E sim, temos sorte quando limpam nas suas calças e não aproveitam as nossas num momento menos atento da nossa parte.
Há também os que tiram imensa diversão em riscar assentos e arrancar autocolantes do metro. E há as mães. Isso sim é divertido de ver. Naturalmente que uma mãe que venha com uma criança pequena pela mão ou ao colo dá prioridade a arranjar lugar para a criança. Mas quantas vezes já não assisti a alguém levantar-se para ceder o lugar (muitas vezes até eu mesmo) e a outra agradecer, e sentar-se, virando-se depois para a criança dizendo “agarra-te bem aí ao posto, moço!”. Isto só para mostrar o poder das varizes.
Há ainda aqueles que, vá-se lá saber porquê, consideram que o metro é deles. Uns espalmam-se no chão, vão lá sentados, a ocupar o triplo do espaço que ocupariam se fossem como um Homo-Sapiens regular. Outros sentem que os bancos são demasiado a direito, e afinal, porque raio não meteram ali uns sofás? Não ocupam tanto espaço como isso. Então acabam por esticar as pernas nos assentos, como quem reserva lugar para um amigo imaginário.
Os meus favoritos pessoais são as pessoas que vão em transe. Eu sou desses. Vou de tal ordem concentrado em tanta coisa ao mesmo tempo que acabo por me isolar, e bem que o metro podia começar a voar, que eu só daria por isso quando visse nas notícias da tarde. É verdade, abstraio-me completamente, pensando numa data de coisas importantes, e sem o serem, ao mesmo tempo, e perdendo consciência do que se passa à minha volta. Claro que vou com os olhos abertos, então acabo por processar as imagens, mas se houver algo de interessante ou curioso que eu veja, só vou reparar quando sair na minha paragem e fizer uma passagem rápida mental por tudo o que tiver acabado de ver. Agora que penso nisso, até é possível que afinal de contas já alguma rapariga tenha usado o meu ombro para se aconchegar no metro, e eu não tenha dado conta. Bem visto...
Os auriculares dos telemóveis são uma coisa muito chata hoje em dia. Há uns tempos atrás fiquei muito desiludido quando ia uma rapariga muito engraçada ao meu lado, e eu ia em “transe”, e saí do mesmo no preciso momento em que ouço esta dizer “eu amo-te!”. Eu virei-me, e já ia abrir a boca para dizer “eu agradeço muito a intenção. Não digo que não fosse capaz de te amar também, mas se calhar é um bocado precipitado, devíamo-nos conhecer melhor antes, ou conhecer de todo, não concordas? Podemos marcar já um cafezinho para resolvermos o assunto.” Neste momento, ela ajeitou o cabelo e vi lá debaixo um sapo preto agarrado à sua orelha, que num instante se transformou num auricular “Bluetooth”; ainda estou para perceber como... De qualquer das formas, acabei por não dizer nada, mas é daquelas coisas que não são saudáveis, dão desgostos a pessoas. É estar a dar esperanças a alguém. É como uma punhalada nas costas. Ou talvez não, porque nem a conhecia. A vida é assim mesmo.
Por falar em telemóveis, também é engraçado reparar como uma pessoa fala ao telemóvel no meio de uma multidão. Só isso pode-nos dizer muito a respeito da personalidade de alguém. Se é introvertido, se não, e mais trinta por uma linha. Eu pessoalmente sou muito reservado, então em primeiro lugar nunca faço chamadas dentro de um metro rodeado de gente. Se for preciso, saio numa paragem para fazer uma chamada que seja mesmo necessária. Mas se alguém me ligar, então falo muito baixinho e com uma voz meio entupida, acabando por dar por mim a ter de repetir inúmeras vezes o que digo porque quem está do outro lado não percebe à primeira, e muitas vezes nem à segunda nem à terceira percebe. Mas há aqueles que são muito confiantes de si mesmos, e gostam de se dar a conhecer aos demais estranhos. Há mesmo quem berre ao telemóvel. Por vezes dá-me vontade de perguntar às pessoas se estão a falar com um surdo, porque se estiverem, também de nada lhes serve berrar daquela forma. Depois há aqueles que andam no metro à procura de um amigo ou amiga colorida. Sempre à procura de alguém a quem piscar o olho, ou à procura de uma boa oportunidade para se fingirem de malucos e começarem a dizer o seu número de telemóvel em voz alta vezes sem conta.
Temos ainda os que fazem os trabalhos de casa à pressa durante a viagem. Vão ali todos atrapalhados, com livros pendurados, canetas nas orelhas, borracha na boca, até os pés servem para ir buscar coisas às mochilas. Tem de ser, senão apanham com mais trabalho ainda. Só não se lembraram disso foi no dia anterior.
O meu conselho mesmo para quem tem um cão, é começarem já a treiná-lo para se passar por morto. Sim, porque supostamente só podem entrar em transportes públicos cães-guia, como usam os cegos, mas há muita gente que já vi mesmo no metro com um cãozinho pequeno ou ao colo, ou metido entre as pernas, escondido debaixo do assento. Mas estes nunca se mexem, e nunca ninguém lhes diz nada. Deve ser por isso mesmo, por não se mexerem. As pessoas têm pena, coitadito do cão; até ao colo entrou, deve estar mesmo mal. A sério, comecem a treinar o vosso cão, ou o gato ou mesmo o tigre que têm lá em casa. Tudo vale.
Depois há as trocas de olhares. Há imensos tipos diferentes de trocas de olhares. Trocas de olhares amorosos, outros nem tanto, outros o oposto mesmo. Há de tudo. Gente que vai de fato (fato de vestir, não facto sem “c”) a olhar de lado para gente menos bem arranjada, a achar-se superior (alguns só, atenção). E o mesmo ao contrário, gente menos arranjada a olhar para gente de fato e a achá-los hipócritas. Alguém que tira do bolso um bom telemóvel ou um PDA, é logo alvo de olhares indiscretos, pensando quanto aquilo terá custado, ou se será mesmo dele, se foi a sua mãe que lho emprestou, se estará a pagar aquilo às prestações, se o terá roubado, ou mesmo se o terá ganho numa caixa de cereais, daquelas em que se manda um código por 60 cêntimos para um número qualquer e nunca se ganha nada. Ou então, quando se ganha, dizem-nos que o stock já acabou e então em vez daquela fantástica scooter nos mandam um chapéu só para nos lembrarmos de continuar a tentar na próxima promoção (sim, já me aconteceu…).
Há os que vão a olhar para um lado e para o outro, a suar, e a desconfiar de toda a gente, porque não pagaram o bilhete. Há os que já vêm suados de terem vindo a correr para não terem de esperar mais cinco minutos pelo próximo metro, e há o oposto. Eu gosto de pôr um bocadinho de perfume de manhã. Só um bocadinho, para dar a nuance necessária. Mas se ando de metro, este não dura. Quantas vezes o meu perfume não foi já completamente liquidado, neutralizado, trespassado por perfumes femininos. Aquilo é que é força. Uma senhora qualquer que se tenha perfumado senta-se ao meu lado, e eu já sei que não vou sair dali com o meu cheiro, mas sim com o cheiro dela. Há mulheres que só podem usar um frasco de perfume por dia. Só pode. Ou isso ou os fabricantes de perfumes masculinos esmeram-se menos que os de mulheres. Sinceramente acho que se devia levar este caso mais a sério, não devia ser assim.
Assim concluo que o metro é dos melhores sítios para desenvolvermos os nossos sentidos. A audição, o tacto, o olfacto, a visão, e... Não, não vejo aplicação para o paladar. A não ser no caso daqueles que tiram pastilhas elásticas secas debaixo dos assentos e fazem questão de as ingerir. Mas gosto de imaginar isto como um mito que nunca se vai provar verdadeiro diante dos meus olhos. Há muitas outras observações interessantes nos transportes públicos, mas de momento exponho aquilo que me recordo, ou mesmo o que me convém (como eu disse, sou muito reservado), não querendo deixar de dizer que fiquem sempre atentos, porque é giro. É mesmo. E não vos conto tudo, porque senão não tem tanta piada como relatarem vocês mesmos.
E claro, todos sabemos que há os que lêem. Há os que fingem ler. E há ainda os que fingem ler uma coisa mas lêem outra por baixo. Já assisti a uma pessoa com a capa de um livro posta noutro, e eu percebi isto pelo conteúdo, porque tinha lido o livro da capa e o livro que estava dentro não era o mesmo. Qual é o interesse disto? Depois temos ainda os que levam um livro nas mãos mas nunca chegam a virar a página; vão olhando à volta, lançam olhares aqui e ali, e para os menos atentos, passam por grandes intelectuais.